domingo, 23 de maio de 2010

Inibidores de apetite

Inibidores de apetite

Os perigosos efeitos colaterais dos inibidores de apetite

A morte da mãe há quatro anos deixou Emília Damico, na época com 23 anos, deprimida. Ela teve medo de compensar o luto devorando biscoitos, salgadinhos e tudo o mais que visse pela frente, como fazia em situações de angústia. Uma amiga lhe chamou a atenção, contando a história de outra colega, que engordara 10 quilos depois de uma perda semelhante. A revelação deixou Emília mais apreensiva: além de enfrentar a tristeza, ela temia engordar além da conta. A coordenadora de suporte de Tecnologia da Informação, natural do município de Santo André (SP), então com 75 quilos para seu 1,75 m de altura – o que significava seis quilos acima do peso ideal –, decidiu procurar um endocrinologista, indicado por uma conhecida que fazia dieta à base de remédios para emagrecer.

“Foi uma conversa objetiva. Eu disse que não estava contente com meu peso. Fiz um exame de *bioimpedância, que mede o Índice de Massa Corporal (*IMC) na própria clínica, e saí de lá com duas receitas: uma fórmula com *Anfepramona, para ser tomada duas vezes ao dia, e outra com substâncias como laxantes, calmantes e diuréticos, entre outras”, conta Emília.


Efeitos colaterais dos inibidores de apetite

Logo na primeira semana, surgiram efeitos colaterais como tontura, escurecimento da vista, taquicardia, falta de ar e, no caso de Emília, uma curiosa ojeriza a doces. “Não conseguia chupar uma bala. Também não tinha vontade de comer. Passava 14 horas sem ingerir nada. Era um sacrifício engolir uma colher de arroz e uma de feijão na hora do almoço”, recorda a tecnóloga que, mesmo com os sintomas incômodos, emagreceu nove quilos em 15 dias.

No 20º dia do tratamento, apesar de contente com a silhueta, o desconforto das reações, somado a fortes dores no estômago, levou Emília a reduzir, por conta própria, a dosagem da medicação pela metade. “Tomava as cápsulas em dias alternados. Nos dias sem remédio, sofria com medo de sentir fome, à medida que se aproximava a hora das refeições”, lembra ela.

A estratégia durou 10 dias, até que Emília abandonou as pílulas para emagrecer. Mas a privação durou pouco – nos dois meses seguintes ela voltou a engordar e recuperou nove, dos 15 quilos perdidos. Temerosa de retomar os 75 quilos iniciais, Emília não teve dúvidas: retornou ao médico e obteve nova prescrição de Anfepramona.


O Brasil está acima do peso ideal



Assim como Emília, 43,3% da população brasileira adulta está acima do peso ideal, e 13% deste total sofre de obesidade, segundo levantamento do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. Na ânsia de perder peso, muitas pessoas recorrem a consultórios médicos em busca de dietas, e nem sempre saem deles orientados a tentar mudar o estilo de vida por meio da reeducação alimentar e da prática de atividade física regular.

Pelo quarto ano consecutivo, o Brasil desponta na lista de países que mais consomem estimulantes, principalmente anorexígenos – moderadores ou inibidores de apetite, compostos em sua maioria pelos derivados de anfetamina Dietilpropiona (ou Anfepramona), Femproporex e Mazindol. De acordo com o relatório de 2008 da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife), órgão ligado à ONU, Argentina, Brasil e Estados Unidos ocupam, respectivamente, as três primeiras posições da lista, e juntos abocanham 78% do consumo mundial de estimulantes.

“Anorexígenos como a Anfepramona e o Femproporex são drogas psicotrópicas de venda legal e controlada. O problema não é a falta de prescrição, e sim a indicação para fins estéticos. O consumo é maior entre pessoas que não têm perfil para usá-las, do que por aqueles que sofrem de obesidade”, resume a psicofarmacóloga Solange Nappo, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Inibidores de apetite derivados de anfetamina atuam no sistema nervoso central reduzindo a sensação de fome, mas provocam uma série de efeitos colaterais, além de causarem dependência. Há ainda outros anorexígenos, como a Sibutramina e o Orlistate, com composição e mecanismos diferentes, sem potencial de dependência. Nos últimos cinco anos, o faturamento da indústria farmacêutica no Brasil quase dobrou com a venda de anorexígenos: saltou de R$ 198,9 milhões (5,8 milhões de unidades vendidas) em 2004 para R$ 348 milhões (9,6 milhões de unidades) no ano passado, segundo dados do IMS Health (empresa de consultoria internacional especializada na área farmacêutica).

“É um negócio muito lucrativo. Mas excesso de peso não significa obesidade. A população é induzida por uma cultura da magreza, mas a mulher brasileira não é anglo-saxã: nosso patrimônio genético é opulento por causa da herança portuguesa, africana e indígena. E como é mais difícil mudar a imagem corporal apenas com dieta, apela-se para as drogas. Medicamento não foi feito para uso estético”, adverte o Dr. Elisaldo Carlini, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), cujo Levantamento Domiciliar Nacional revela que duplicou a procura feminina por anorexígenos entre 2001 e 2005.

Apesar de indicados para o tratamento de pessoas realmente obesas – IMC acima de 30 ou 40 – ou para quem tem complicações relacionadas (diabete, hipertensão arterial, colesterol alto, problemas articulares) ou quem já tentou sem sucesso emagrecer pela reeducação alimentar, os anorexígenos vêm sendo prescritos para quem está com apenas cinco ou oito quilos a mais. Uma pesquisa do Cebrid atesta que 92% dos consumidores de anfetaminas são mulheres, e que 60% das que fazem uso apresentam IMC abaixo de 30.

“O uso abusivo de anorexígenos ocorre por uma série de fatores. Por um lado, há pacientes que não querem ter trabalho para emagrecer e acham que a solução está em um remédio milagroso; por outro, existem médicos que não querem perder tempo e saem prescrevendo inibidores. A consulta para quem quer emagrecer é demorada: ouvimos a história do paciente para descobrir como é sua rotina. É necessária uma mudança comportamental. O remédio apenas não resolve”, explica o endocrinologista Henrique Lacerda Suplicy, professor da Universidade Federal do Paraná.

É longa a lista de efeitos colaterais provocados pelo uso indevido de anorexígenos: insônia, irritabilidade, agitação, dores de cabeça, taquicardia, aumento da pressão arterial, prisão de ventre, tremores, perda da libido, depressão, alucinações e surtos psicóticos, entre outros. Isso sem falar no inevitável efeito rebote (ou sanfona)– o corpo readquire os quilos perdidos e mais alguns extras – e no risco de ocorrer dependência física e psicológica.


Inibidores de apetite podem engordar

“Fazer uso de inibidores sem necessidade é receita certa para engordar. O metabolismo fica bagunçado porque a pessoa não sente fome e quase não se alimenta. O corpo entra em sistema de alarme e fica econômico no gasto energético. Quando o remédio é suspenso, come-se exageradamente, pois o organismo tende a compensar a escassez”, explica a doutora Fernanda Scagliusi, professora do Curso de Nutrição da Universidade Federal de São Paulo, campus Baixada Santista.

Uma descoberta assustadora obrigou Emília a suspender a medicação: durante um exame de rotina na empresa, no fim de 2005, foi identificado um caroço na tireóide. “Fiquei apavorada com a possibilidade de ser maligno. Parei imediatamente com os remédios, que tinham, entre as substâncias, um hormônio tireoidiano. Fiz uma ultrassonografia e, por sorte, era um tumor benigno”, diz, aliviada.

Alguns cuidados poderiam evitar sustos como o de Emília. Para a psicanalista Silvia Brasiliano, o fato de a fórmula ser individualizada faz o paciente achar que o remédio foi feito sob medida para ele. “O paciente também acredita que, por ser uma fórmula, trata-se de um medicamento natural. E o médico não adverte para o fato de o remédio poder causar dependência, além de não mencionar o efeito rebote (ou sanfona). É comum a pessoa perder 10 quilos em três meses e ganhar 12 quilos nos dois meses seguintes”, explica a coordenadora do Programa de Atenção à Mulher Dependente Química (Promud), do Instituto de Psiquiatria da USP.

Embora a ANVISA proíba, desde 1998, a prescrição de fórmulas de anorexígenos com associações medicamentosas – ansiolíticos, diuréticos, hormônios ou extratos hormonais e laxantes, entre outros –, as receitas com tais combinações continuam circulando. “A ANVISA se compromete criando as leis, mas não há controle. O que ocorre é que são prescritas receitas separadas: uma destina-se às cápsulas com o anorexígeno, e a outra às demais substâncias. Eu já vi de tudo – desde receitas enviadas pelos correios até prescrições com nomes de pessoas diferentes”, diz o professor Suplicy.

A partir de janeiro de 2008 entraram em vigor medidas mais rígidas estabelecidas pela ANVISA para diminuir a prescrição e o consumo de anorexígenos no país: novo receituário (B2, de cor azul); a validade máxima da prescrição passou a ser de 30 dias a partir da emissão; e as doses diárias recomendadas foram fixadas para substâncias como Femproporex (50 mg/dia), Fentermina (60 mg/dia), Anfepramona (120 mg/dia) e Mazindol (3 mg/dia).

Além disso, começou a funcionar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) nas farmácias. Em todo o país, existem cerca de 70 mil farmácias e drogarias particulares – um terço delas está fora do controle on-line graças a uma decisão judicial – e há também 7.800 estabelecimentos de manipulação, cuja participação no SNGPC é voluntária. Apesar de ainda não ter sido concluído o balanço do primeiro ano de implementação do SNGPC, a ANVISA assegura que já existem vários indícios de redução no consumo dos anorexígenos..


Como perder peso com saúde

*Nova Pirâmide Alimentar

O endocrinologista Márcio Mancini, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), dá algumas orientações para quem deseja perder peso com a ajuda de um profissional de saúde.

“Durante a consulta, o médico precisa conversar seriamente sobre a mudança de comportamento, a prática de *atividade física regular e a *reeducação alimentar. Isso é a base do tratamento, mas os remédios podem ser úteis desde que usados com responsabilidade e critério”, diz Mancini.

Outra alternativa segura para quem está acima do peso é procurar, antes de tudo, a orientação de um nutricionista. “Este profissional identifica as causas da alimentação inadequada como, por exemplo, problemas emocionais. O risco de se começar a fazer dietas com inibidores e perder a autoestima é grande: a pessoa não se sente mais capaz de tomar conta do próprio corpo e fazer as mudanças no estilo de vida. É como parar de fumar”, previne a professora Scagliusi.

As experiências de Emília com inibidores não a impediram de se iludir novamente com o sonho de emagrecer sem esforço: em 2006, ela conseguiu uma prescrição de Femproporex e, como seu corpo não reagiu, Emília apelou para as cápsulas de Sibutramina. “Nada fazia efeito. Foi o golpe de misericórdia. Parei de vez com as dietas à base de remédios”, desabafa Emília, que se casou em 2007.

Mas a felicidade do matrimônio se refletiu na balança: em novembro de 2008, ela chegou aos 77 quilos. Emagrecer virou de novo uma preocupação. Desta vez Emília decidiu investir no plano de reeducação alimentar proposto por uma nutricionista.

“Consegui criar novos hábitos. Passei a comer em horários certos, a levar frutas para o trabalho, beber bastante água e praticar exercícios. Quando sinto vontade de comer uma coxinha, por exemplo, não me privo. A diferença é que não como várias, nem todo dia”, explica Emília, que chegou a ter 10 quilos a menos em março deste ano.


Só Pra Constar:

*bioimpedância: É um método muito utilizado em academias, clubes e consultórios para avaliar a composição corporal de gordura. A bioimpedância utiliza um aparelho que consegue medir a gordura do corpo através de uma corrente elétrica de baixa intensidade, que é imperceptível.

Quanto maior a quantidade de água contida em um órgão, mais facilmente a corrente irá passar.

Os órgãos que têm mais gordura possuem menos água. Por isso, esses órgãos têm uma resistência maior, fazendo com que a corrente elétrica seja mais lenta. Dessa maneira é feito o registro da corrente elétrica de acordo com a quantidade de água e de gordura presentes no corpo.

Para fazer essa avaliação, dois eletrodos são colocados nos braços e dois nos pés. Alguns cuidados devem ser tomados, para que o resultado seja perfeito. Assim, a pessoa avaliada não deve consumir alimentos e líquidos – especialmente bebidas alcoólicas e café – algumas horas antes do teste, nem mesmo realizar atividade física.

Além disso, o avaliado não pode tomar diuréticos nos 7 dias antecedentes e deve urinar e permanecer em repouso alguns minutos antes da avaliação, para não interferir nos resultados. Gestantes e portadores de marcapasso não podem passar por esta avaliação. Qualquer falha antes ou durante o teste pode levar a um resultado alterado; portanto, a atenção deve ser redobrada.

*IMC: IMC (BMI em inglês) é a sigla para Índice de Massa Corporal. O IMC é um cálculo que leva em consideração o peso corporal e a altura da pessoa. O resultado ajuda a saber se a pessoa tem um peso baixo, normal ou se pelo contrário tem peso a mais.
Os especialistas na matéria relacionam a obesidade com um risco mais elevado de sofrer várias doenças entre elas doenças do coração. É importante notar que não se toma em consideração a massa muscular quando se calcula o Índice de Massa Corporal.
O IMC é calculado dividindo o peso (em kg) pela altura ao quadrado (em metros).

Por exemplo:

- Eu peso 70 kg e messo 1,70 m
- então divide-se o peso em kgs, pela altura ao quadrado;
- 70 : (1.70x1.70) =
- 70 : 2,89 = 24,22

O meu IMC é de 24.22

Para quem não tem paciencia de ficar calculando isso, indico o site:

O Índice de Massa Corporal é reconhecido como padrão internacional para avaliar o grau de obesidade, mas não se aplica a atletas, crianças e mulheres grávidas ou a amamentar.

*Anfepramona: Também conhecido como, o anorexígeno dietilpropiona é o mais utilizado atualmente no Brasil. Atua na liberação da noradrenalina. Provavelmente, a dietilpropiona é o anorexígeno mais potente de uso legal. Este age nos núcleos hipotalâmicos laterais inibindo a fome. Tem potencial de dependência e gera tolerância (são necessárias doses maiores com o passar do tempo para obter o mesmo efeito).

Os efeitos colaterais mais comuns são: boca seca, constipação intestinal, irritabilidade, insônia e mais raramente taquicardia e hipertensão arterial.

*Nova Pirâmide Alimentar: Uma nova pirâmide alimentar foi sugerida pelo Departamento de Nutrição da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard.

Esta nova pirâmide tem como base os exercícios físicos e o controle de peso. Depois, os glúcidos integrais, como pães e arroz, na maioria das refeições, juntamente com óleos vegetais, principalmente o azeite. Acima, estão as verduras, os legumes e as frutas.
Aparecem depois as castanhas, amendoím e leguminosas, como feijão, ervilha e grão-de-bico. Em seguida, peixes, frango e ovos. No topo da pirâmide encontram-se os laticínios ou suplementos de cálcio, e por último, arroz branco, pão branco, batata, massas e doces, juntamente com a carne vermelha e a manteiga. Vitaminas e até uma dose moderada de bebida alcoólica são bem vindas.

*Atividade Física: é definida como um conjunto de ações que um indivíduo ou grupo de pessoas pratica envolvendo gasto de energia e alterações do organismo, por meio de exercícios que envolvam movimentos corporais, com aplicação de uma ou mais aptidões físicas, além de atividades mental e social, de modo que terá como resultados os benefícios à saúde.

Qual a importância da atividade física ao organismo?
Atividade física regular reduz substancialmente o risco de morrer de doença cardíaca coronária e diminui o risco de infarto, câncer de cólon, diabetes e pressão alta. Atividade física também ajuda a controlar o peso corporal; contribui para ossos, articulações e músculos sadios; reduz o índice de quedas em idosos; ajuda a aliviar a dor da artrite; diminui os sintomas de ansiedade e depressão; e está associada a menor número de hospitalizações, visitas médicas e medicação. Ainda mais, a atividade física não precisa ser extenuante para ser benéfica e pessoas de todas as idades obtêm benefícios ao participar regularmente de atividade física moderada por 5 ou mais dias da semana.

*Reeducação Alimentar: É um processo de aprendizagem exercido através de orientações nutricionais específicas onde o paciente conhece e incorpora hábitos alimentares saudáveis.

Por se tratar de um processo de aprendizagem o paciente no final do tratamento torna-se apto à escolher corretamente os alimentos de sua dieta tanto à nível qualitativo quanto quantitativo.
Ela é aplicada as pessoas que já possuem hábitos alimentares inadequados não tendo assim caráter preventivo e sim tratamentoso.


Baseado na matéria feita Por Claudia Soares

E publicada na Revista Seleções Reader’s Digest (www.selecoes.com.br)

E com alguns acréscimos feitos por mim (8D)