sexta-feira, 25 de junho de 2010

Rebelião das Palavras



Rebelião das Palavras

Retirado do Periódico da Ordem do Graal na Terra – ano 10 – nr. 26

Nadamos em uma grande sopa de letras e pescamos as palavras que nos interessam. Às vezes buscamos sem sucesso um minuto mudo, um minuto de silêncio para revalorizar cada fala. Mas não basta controlar as palavras que falamos, é necessário selecionar também as que escutamos. Entre palavras que constroem e outras que ferem, cada palavra falada ou escutada fica registrada e passa a habitar o nosso mundo. Mas as palavras não são reféns. Elas contêm força e, quando pronunciadas, constroem exatamente aquele universo por nós escolhido. Cientes disso, as palavras andam um pouco aborrecidas com o desleixo com que são proferidas e querem expressar seu protesto.


Ai, palavras, ai, palavras. As pequenas e as grandes, as nobres e as malvadas. Mesmo com toda sua diversidade, as palavras se unem em um gesto e pedem um espaço para soltar sua voz. A voz é de reivindicação, querem manifestar seu desgosto e mostrar ao falante com quantas e quais palavras se faz um protesto.

Comecemos com as palavras de reclamação, que falam mais alto. As palavras de reclamação estão reivindicando férias. Elas têm se sentido escravas da humanidade, pois são requisitadas o tempo inteiro e usadas indiscriminadamente contra tudo e todos. Alastram-se feito uma pandemia e pedem urgentemente uma trégua para descanso e resguardo.

As palavras desanimadas querem ser deixadas em paz, quietas no seu canto, sem perturbação. Neste momento estão fazendo uma combinação com as palavras felizes e animadas, que aguardam saltitantes seu momento de serem ditas!

A palavra silêncio está em extinção e os poucos exemplares que restam da espécie exigem ser respeitados e homenageados com alguns minutos mudos. As palavras-fofoca, por sua vez, são as que têm provocado maior barulho e confusão. Elas têm feito os humanos brigarem e poluído a imagem de muita gente. Isso causa o surgimento de uma nuvem abafada e cinza de letras desordenadas e contagiosas. As palavras proféticas advertem que isso causará uma chuva ácida devastadora.

As palavras destrutivas, as tristes e, sobretudo, as inúteis estão exaustas de tanto serem pronunciadas. O Ministério da Poluição Sonora adverte: é imperativo que haja uma redução significativa de emissões desse gênero. Falar demais faz mal à saúde. Os ouvidos humanos também merecem respeito e o que é falado é formado.


Palavras generosas e bonitas desejam um canteiro, Sol e água para poderem nascer com mais força, curar feridas e promover harmonia. As palavras-elogio também esperam ansiosamente por serem proferidas, pois querem exercitar seu potencial de incentivo e motivação. Olham com tristeza as palavras-bajulação tomarem seu lugar. A palavra amor avisa, a quem quiser ouvir, que detesta ser confundida com moleza ou dó e que quer ser difundida nas multidões e não apenas ser sussurrada a dois.


Conceitos e palavras comuns, veiculados na mídia e repetidos pela multidão, estão com a autoestima baixa. Cansaram-se de ser repetidos e aceitos sem critério. Lançam inclusive um apelo: quem não viu com os próprios olhos, favor não repetir sem analisar! Já as palavras originais e reflexivas estão carentes e pedem alguma atenção, pois só nascem da introspecção e não têm conseguido prosperar a contento. Ninguém lhes dá atenção.

Todas as palavras exigem também ser sentidas porque não servem apenas para serem faladas. A linguagem precisa combinar com o sentimento. Quando a palavra dita não traduz a palavra pensada e sentida, tem início uma briga e um conflito perturbador de significados. As palavras andam indignadas com essa confusão!


Em conjunto, elas também explicam que não são seres solitários e autônomos, mas que têm sempre uma letra presa na boca de quem as disse. Por isso, elas, as palavras, reivindicam um uso mais cauteloso e um pouco de reflexão antes de serem pronunciadas, porque palavras são e formam! Elas têm vida e andam cabisbaixas pelo pouco caso com que têm sido tratadas. Ai, palavras, ai, palavras, neste mundo das letras tudo se forma e também se transforma. Depende do que é falado!


Ai, Palavras!

Ai, palavras, ai palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai palavras,
sois o vento, ides no vento,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!
Ai, palavras, ai palavras,
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois audácia,
calúnia, fúria, derrota…
A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora…
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil como o vidro
e mais que o são poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam…

Cecília Meireles


"Palavras"

Perco-me quando escrevo...
Me perderia de qualquer forma.
Afinal, tudo é perda...
E calar é muito mais...
Escrevo porque preciso.
Escrever é como droga.
Vício do qual não me abstenho,

e no qual vivo.

É como veneno necessário.
Se compõe de fragmentos do sentimento.
Nos recantos dos sonhos é colhido.

Das margens bucólicas dos rios da alma.
Essas águas deixo escorrer por meus dedos.
Não quero o silêncio...
Por isso...

Que meu coração jamais se cale.
E o que eu não ouso dizer...

Isso ele fale.
E que o faça claramente.
Nunca com ambigüidade...
E sejam suas palavras, como rio
Que incógnito nasceu,
Cuja maré alta transforma em foz.

Glória Salles


sábado, 19 de junho de 2010

EU APRENDI

EU APRENDI...

... que eu não posso exigir o amor de ninguém, posso
apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter
paciência, para que a vida faça o resto. Que não importa
o quanto certas coisas são importantes para mim, tem
gente que não dá a mínima e eu jamais conseguirei
convencê-las. Que posso passar anos construindo uma
verdade e destruí-la em apenas alguns segundos.



EU APRENDI...
... que posso usar meu charme por apenas 15 minutos;
depois disso, preciso saber do que estou falando. Que
posso fazer algo em um minuto e ter que responder por
isso o resto da vida. Que por mais que você corte um pão
em fatias, esse pão continua tendo duas faces, e o mesmo
vale para tudo o que cortamos em nosso caminho.



EU APRENDI...
... que vai demorar muito para me transformar na pessoa
que quero ser, e devo ter paciência. Que posso ir além
dos limites que eu próprio coloquei. Que eu preciso
escolher entre controlar meus pensamentos ou ser
controlado por eles.



EU APRENDI...
... que os heróis são pessoas que fazem o que acham que
devem fazer naquele momento, independentemente do medo
que sentem. Que perdoar exige muita prática.
Que há muita gente que gosta de mim, mas não consegue
expressar isso.



EU APRENDI...
... que nos momentos mais difíceis, a ajuda veio
justamente daquela pessoa que eu achava que iria tentar
piorar a minha vida. Que eu posso ficar furioso, tenho o
direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser
cruel. Que jamais posso dizer a uma criança que seus
sonhos são impossíveis; será uma tragédia para o mundo
se eu conseguir convencê-la disso.


EU APRENDI...
... que meu melhor amigo vai me machucar de vez em
quando, que eu tenho que me acostumar com isso. Que não
é o bastante ser perdoado pelos outros, eu preciso me
perdoar primeiro. Que, não importa o quanto meu coração
esteja sofrendo, o mundo não vai parar por causa disso.



EU APRENDI...
... que as circunstâncias de minha infância são
responsáveis pelo que eu sou, mas não pelas minhas
escolhas que eu fiz quando adulto. Que numa briga, eu
preciso escolher de que lado estou, mesmo quando não
quero me envolver. Que, quando duas pessoas discutem,
não significa que elas se odeiem; e quando duas pessoas
não discutem não significa que elas se amem. Que por
mais que eu queira proteger os meus filhos, eles vão se
machucar e eu também serei machucado, isso faz parte da
vida. Que minha existência pode mudar para sempre em
poucas horas, por causa de gente que eu nunca vi antes.
Que diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou
mais sábio.



EU APRENDI...
... que as palavras de amor perdem o sentido, quando
usadas sem critério. Que certas pessoas vão embora de
qualquer maneira. Que é difícil traçar uma linha entre
ser gentil, não ferir as pessoas, e saber lutar pelas
coisas em que acredito.



EU APRENDI...
... que amigos não são para guardá-los no peito, e sim
para mostrá-los que são seus amigos.



VIVA BEM! VIVA O MELHOR POSSÍVEL!!!