quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

POEMAS


MINHAS DÚVIDAS
*BAHIGE FADEL

Meu Deus, por que duvido tanto de ti?
Por que, às vezes, não te vejo nas flores?
Por que não te sinto nas manhãs?
Por que não percebo tua presença nas pequenas coisas?
Por que desapareces de meus olhos ao mínimo problema?
Por que te ocultas na escuridão de meu sofrimento,
Nas esquinas de minhas dúvidas,
Nos abismos de meus ódios,
No sal de minhas lágrimas?

Por que não falas comigo em minha solidão?
Por que não me esclareces as dúvidas?
Por que não me trazes a paz de que preciso
E que me faria dormir sossegado,
E que me faria acordar feliz,
E que me faria falar seguro,
E que me faria calar no momento certo?

Por que não és como o sol,
Que, distante, espalha seu calor
E deixa claros os dias?
Por que não és como a flor,
Que se abre bela
E perfuma todos os jardins?
Por que não és como a chuva,
Que rega todas as plantas
E deixa caudalosos os rios?
Por que não és como a música,
Que acaricia os ouvidos
E penetra como faca
Sem ferir?

Eu te queria meu amigo:
Confidente paciente de todas as minhas incertezas,
Companheiro constante de minha solidão.
Eu te queria meu hóspede:
Visita aguardada com ansiedade,
Para a qual já se arrumou a casa
E se preparou a cama.

Preferes, no entanto, ser o Deus de todos,
Oração que se repete na fé dos crentes,
Pedido que se renova na voz dos desgraçados,
Agradecimento que se produz no coração dos escolhidos.
Preferes ser de todos sem pertenceres a ninguém!
Aguardas, apenas, que se renovem os dias
E, com eles, a reconstrução de tudo:
Do pecado e do perdão,
Do sono e do despertar,
Do sonho e do pesadelo,
Da vida e da morte,
Do azar e da sorte.
Aguardas, apenas que construam tua imagem;
Sem te importares com ela,
E aceitas que ela seja não o que és
Mas o que pensam de ti.
Aguardas, apenas, que se lembrem de pedir-te
E se esqueçam de agradecer-te.
Aguardas, apenas, que te batam à porta
Para que possas abri-la.

Meu Deus, por que duvido tanto de ti
Como duvido de mim?
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*Bahige Fadel
Professor de Portugues e Literatuma
Membro da Academia Botucatuense de Letras
Ex-Vereador da Cidade de Botucatu

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